"Agora não posso" ... "amanhã não dá jeito"... "para a semana talvez seja melhor". Independentemente da desculpa ou da companhia, há quanto tempo não contemplamos o que quer que seja? No sentido mais abrangente da palavra, apreciando, a seu tempo, o que "o criador" decidiu fazer, podendo mesmo até esquecer o porquê... Seja uma fotografia, uma paisagem, uma rua, uma praia, uma pintura, o que quer que seja... e pensamos sobre isso ou até sobre o que isso nos pode fazer sentir, pensar ou recordar?
Coloquemos a razão de lado. Até por isso, a contemplação acaba por ser uma coisa boa. Não precisa de ser justificada pela lógica racional. Serve até para nos abrigarmos nesse cantinho onde ninguém poderá perguntar: "então mas afinal... porquê?" Não! Isso não é suposto acontecer, até porque a contemplação é uma actividade auto-suficiente na sua própria existência... e tem contornos tanto de natural como de "ingénua". Gosta-se pela simples actividade que encerra em si mesma! Já dizia um senhor (há muitos anos) que a contemplação seria a maior felicidade alcançável pelo espírito humano. Não por ser um estado, mas uma actividade (que apesar de não poder ser realizada incessantemente) só poderia ser efectivada através da utilização "elevada" do nosso intelecto.
Fazendo crer que daí poderemos até retirar alguma ideias, alguma paz ou alguns pontos de (re)equilíbrio, seja intelectual ou emocional, certo é que a contemplação não nos deixa indiferentes. E isso é sempre salutar - termos reacção, respostas a estímulos, etc... O que parece estar a acontecer é uma generalizada demissão do acto de contemplar (não necessariamente propositada ou voluntária) mas que vai servindo para datar as conversas sobre fotografia, pintura, escultura - e até cinema - num espaço com muita idade, como se a produção tivesse (quase) deixado de existir. E não é necessariamente falta de cultura visual ou artística...
Gostos à parte, (e em época de World Press Photo), se percebermos que a própria actividade de contemplar algo serve para dar mais elasticidade ao nosso cérebro, teremos uma razão para, por si só, justificarmos a próxima ida a uma qualquer exposição. Se não for esse o caso, e porque a razão não é para aqui chamada, então façamo-lo porque gostamos mesmo do que vamos ver. Aí sim, o estágio máximo a que se referia "o senhor antigo" será, supostamente, atingido.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
"Os gajos..."
É uma expressão comum... "os gajos" são tudo e não são nada, mas sempre ao mesmo tempo, curiosamente. Indissociáveis duma qualquer conversa de almoço ou jantar, mesmo que seja por pouco tempo. Ou mesmo entre um café e um cigarro. Ainda que haja tempo, durante a semana, para se discutir sobre alguns assuntos, facto é que, saber quem faz o quê, não é muito importante nos tempos que correm, até porque serão eles... "os gajos" os culpados de tudo. Então vejamos de que é que eles têm culpa. Ainda agora ouvi: "epá, os gajos agora com esta cena do Carnaval entalaram-me bem"... e logo de seguida... "epá, e então aquela cena que os gajos agora inventaram dos pórticos ou o canéco..." e alguns minutos depois: "ouve lá, tu tem cuidado que agora os gajos estão a apertar com os limites dos pagamentos". Isto tudo em locais diferentes da mesma Lisboa.
Ou seja, "eles" serão maus, muito maus, ao que parece... são uma forma de "Zé", mas no plural, provavelmente vestidos de fato escuro e gravata lisa mas colorida, e que andam pelas zonas nobres da cidade, de carro, uns até com motorista privado. Ou então são a simples normalidade da sociedade e um bando (sim, porque actuam em bando) que, refestelados nas poltronas dos seus gabinetes decidem, de livre arbítrio, sem rei nem roque, o que bem lhes vai na alma para definirem o que de melhor, pensarão "eles" para (des)coordenar a maquete.
O certo é que "os gajos" vieram para ficar e serão, doravante, mais citados do que nunca. Em tempos como os de hoje (seja lá isso o que for), dá sempre mais jeito generalizar do que apontar o dedo, mesmo que se saiba a quem apontar - pode não dar muito jeito para um qualquer familiar. Assim, "os gajos" são uma matéria viva mas incógnita no sentido físico, e até humano, do termo. Não sabemos quando pegam ao serviço, onde trabalham, com quem comunicam mas são, certamente, um dos ícones mais citados dos nossos tempos...
Ou seja, "eles" serão maus, muito maus, ao que parece... são uma forma de "Zé", mas no plural, provavelmente vestidos de fato escuro e gravata lisa mas colorida, e que andam pelas zonas nobres da cidade, de carro, uns até com motorista privado. Ou então são a simples normalidade da sociedade e um bando (sim, porque actuam em bando) que, refestelados nas poltronas dos seus gabinetes decidem, de livre arbítrio, sem rei nem roque, o que bem lhes vai na alma para definirem o que de melhor, pensarão "eles" para (des)coordenar a maquete.
O certo é que "os gajos" vieram para ficar e serão, doravante, mais citados do que nunca. Em tempos como os de hoje (seja lá isso o que for), dá sempre mais jeito generalizar do que apontar o dedo, mesmo que se saiba a quem apontar - pode não dar muito jeito para um qualquer familiar. Assim, "os gajos" são uma matéria viva mas incógnita no sentido físico, e até humano, do termo. Não sabemos quando pegam ao serviço, onde trabalham, com quem comunicam mas são, certamente, um dos ícones mais citados dos nossos tempos...
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Vizinhos e vizinhança
Um exercício que poderá ser interessante fazer consiste em perceber quantos "seres" fazem parte do nosso leque de vizinhos... quem são, onde estão e o que são em relação a nós! Da última pesquisa, rápida, confesso, ao dicionário, a palavra "vizinho" não tinha sofrido quaisquer alterações. Continuava a ser a tradicional pessoa com quem, antigamente, partilhávamos o espaço comum, urbano por natureza, segundo a "terminologia" e tantas vezes semelhante... até nas compras que fazia.
A lógica de perpetuar esse conceito fará todo o sentido se almejarmos um estatuto que a própria palavra encerra, na lógica das unidades residenciais que, outrora deram origem à dita terminologia. Ou então se pretendermos continuar a dizer "olá, bom dia" ou "bom fim-de-semana", coisa que, mais que não seja, e por uma questão de educação, já não se ouve tanto quanto isso.
O que agora dividimos, mais do que o espaço físico com alguém que mal conhecemos é um espaço diferente. Com as devidas ressalvas, bem entendido. E é um espaço em que até conseguimos ver e ouvir quem está do outro lado. E até sabemos quase tudo sobre essas pessoas ou, pelo menos, o que elas nos deixam (entenda-se querem) que nós saibamos. Trata-se, efectivamente, de um ser existente, fisicamente, mas distante no espaço, que é claramente (para alguns) mais atraente porque é, resumidamente, mais "confortável".
E esse conforto é, tantas vezes, tão egoista...
A lógica de perpetuar esse conceito fará todo o sentido se almejarmos um estatuto que a própria palavra encerra, na lógica das unidades residenciais que, outrora deram origem à dita terminologia. Ou então se pretendermos continuar a dizer "olá, bom dia" ou "bom fim-de-semana", coisa que, mais que não seja, e por uma questão de educação, já não se ouve tanto quanto isso.
O que agora dividimos, mais do que o espaço físico com alguém que mal conhecemos é um espaço diferente. Com as devidas ressalvas, bem entendido. E é um espaço em que até conseguimos ver e ouvir quem está do outro lado. E até sabemos quase tudo sobre essas pessoas ou, pelo menos, o que elas nos deixam (entenda-se querem) que nós saibamos. Trata-se, efectivamente, de um ser existente, fisicamente, mas distante no espaço, que é claramente (para alguns) mais atraente porque é, resumidamente, mais "confortável".
E esse conforto é, tantas vezes, tão egoista...
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